terça-feira, 24 de julho de 2007

sem título

Nada melhor do que rezar para ficarmos bem, bem-humorados, alegres e tranqüilos. Não rezei ontem a ponto de curar meu mau-humor. Mas rezei o de sempre, como sempre. Sem grandes falatórios nem promessas. Agradeci.



O que curou minhas mazelas sentimentais foi Deus. Deus sem oração aparente. Posso dizer que vi Deus na natureza de uma maneira minha, pois vi a imensidão que me fez sentir menor, mesquinha e pequena. Fui entregue à pequenez, nome que dou àquele sentimento que me ocorre nos raros momentos de lucidez, que me mostra como os problemas cotidianos quase sempre são ridículos, ou mesmo quando não são - que é quando ignoro, raciocino ou faço o meu melhor - podem ser diminuídos tanto a ponto de nem existirem, de serem devaneio, zero à esquerda, roupa que não se usa mais e tem que ser posta pra fora do armário. Isso raramente acontece comigo mesmo sabendo a diferença óbvia, porém obscura entre pensamento e raciocínio. A grandiosidade das montanhas, dos desertos, dos pedregulhos e desfiladeiros é tanta que me fez perder os pensamentos e dentro do paradoxal oxigênio escasso das alturas, encheu minha mente de certezas e belezas. Vi como a vida é boa, como sou saudável, como tenho amor. Sem oxigênio pude raciocinar com clareza e serenidade.



Vi desertos, desfiladeiros, cactos gigantes, campos verdejantes no meio de um não menos imenso pedregulho sem fim. Vi salares e montanhas nevadas no verão. Salares que um dia foram mar, como se eu estivesse no meio do que um dia foi o fundo do mar. Vi pessoas que vivem do sal. Que literalmente não plantam nada, não criam nada. Que esperam nada. Que literalmente dormem e comem do sal, para e por causa do sal. Talvez comam mal ou morem mal igualmente por causa do sal. Homens com cara de guerrilheiros. Ou melhor: sem cara, já que a escondem dos maiores inimigos onipresentes: o sol e o sal. Fazem artesanatos muito simples de sal, vivem em casas feitas de sal. Como iglus de sal. Correção: máscaras de guerrilheiros.



Não gostei do que vi. Morrem aos 40 anos de tanto sal. Crianças trabalhando no sal e que viverão o resto dos seus 30 anos de vida naquela imensidão alva e apolar. E viverão até lá curiosamente com energia fotovoltaica, internet, água fria e água quente. Parece que o governo deu. Pelo menos foi isso que eu pude constatar na mais remota choupana a 4010m de altura, onde não há ar pra respirar.

O chão é feito de colméias de vidro opaco. É uma neve quente, muito quente, menos à noite quando no inverno -15 é garantido.

Vi turistas idiotas mergulharem nos tanques menores e tirarem fotos ridículas. Os um pouco menos idiotas compravam pequenas esculturas deprimentes feitas por aqueles não menos deprimentes homens e crianças. Estranho não haver mulheres. As esculturas eram basicamente lhamas e cactos, cactos e lhamas e pequenos cristais que eram pesos de papel. Difícil ter criatividade num lugar como aquele: infinitamente belo e infinitamente rude. Fiquei envergonhada por estar ali. Por ter pagado AR$20 pelo “passeio” enquanto a lhama salgada custava AR$1. Fiquei menos envergonhada por ser brasileira, o que é uma infinita bobagem... Mas ali, juro que senti!

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