sexta-feira, 10 de agosto de 2007

las cholas






As cholas são as mulheres mais trabalhadeiras, parideiras, glutonas e elegantes que já conheci. Não importa a hora do dia ou da noite, elas estão trabalhando. Vendem de tudo: balas, batatas fritas, pilhas, chocolate, sorvete, gelatina... e na proporção que vendem, comem o que vendem. Tem chola que trabalha de pedreiro. Vi várias e nem por isso dispensam a saia rodada, o chapéu enfeitado, sandálias e meia-calça. Incrível. O tempo pode estar sequíssimo como o que sangrou nossos narizes e quebrou a nossa pele, ou pode fazer chover leve ou forte, que elas estarão em toda parte, surgindo como seres mágicos de todos os lados, sempre no mesmo compasso. São todas iguais e ao mesmo tempo todas diferentes.


Sempre me perguntava onde estariam os homens de Oruro: os de meia-idade. Jovens havia muitos, alguns anciãos com cara de espanhóis, de terno, banho tomado e brochinho das forças armadas na lapela. Mas eu procurava os homens que porventura fizessem par com as cholas, já que a maioria delas levava uma criança, muitas vezes recém nascida nas costas, quando não eram duas e a outra já vinha andando, vendendo trocinhos ou mesmo treinada pra pedir alguma coisa qualquer, sempre numa constante súplica.

Foi bom ir a Oruro e não ir a Uyuni. Já tive uma pequena amostra do que podem ser salinas e salares. Como tudo ali pode ser mágico e parece estar envolvido na manta do tempo, como se tudo ficasse congelado e Deus só tivesse dado “play” no momento da minha chegada. Como se não houvesse resto do mundo e somente eu. É mais ou menos quando a gente era criança e parecia que não havia vida além da nossa. Acreditávamos que o mundo parasse enquanto dormíamos e continuava no momento do nosso despertar. Se fosse assim, eu poderia acordar e ir para as salinas e as teria só pra mim. Delírio... Acho que isso é coisa de filho único, o que também pode ser bom, pois nós, os filhos únicos, somos exímios observadores. Eu sou.